Pensamento-cinema 2 – 2014.1


Este curso de extensão prolonga a parceria com a Fundação Cultural de Palmas, já existente no curso de 2013.2. Desta vez, contaremos ainda com a colaboração do SESC de Palmas.

Assim, além de promover, no plano do pensamento, a multidisciplinaridade e o cruzamento entre arte, ciências humanas e filosofia, este curso de extensão procura, no domínio sócio-espacial, estender, na direção da cidade, o alcance da universidade para além de seu lugar de costume.

O curso de extensão Pensamento e Cinema estará aberto não apenas ao público universitário como também ao público interessado não universitário.

O curso Pensamento e Cinema constará de seis encontros, a partir de seis temáticas principais, às quais corresponderão seis sessões cinematográficas, com seis palestrantes convidados.

Cada uma das sessões envolverá: a exposição do tema pelo palestrante; a projeção de um filme (em geral, escolhido pelo palestrante); uma mesa de debate integrada pelo palestrante convidado e pelos proponentes do curso; finalmente, a discussão moderada com o público.

Por que valer-se do cinema para pensar? Por que pensar através das imagens?

Não se trata, em Pensamento e Cinema, de expor um conteúdo de pensamento, ilustrando-o com imagens cinematográficas, de legendar o pensamento. Nem de, por outro lado, servir-se do pensamento para interpretar a imagem cinematográfica. Trata-se, sim, de uma colagem, de uma justaposição de pensamento e de cinema, que manifesta o recobrimento e não a exclusão do ver e do pensar, do visível e do inteligível.

Por que ver e pensar? Justamente, porque o cinema dá a pensar, e o pensamento dá a imaginar (isto é, faz ver as coisas de outro modo). O sensível é, em alguma medida (em parte ou totalmente, segundo a orientação do pensamento), inteligível. E a inteligência altera (varia e multiplica) a percepção do sensível.

Justamente, também, porque, em nossas sociedades de espetáculo, não podemos mais, sob o risco fatal de congelar a história da ação humana, ater-nos à atitude de meros espectadores. A ética do espectador (sua transgressão) fundamenta-se no pensar.


LAVOURA ARCAICA: IMAGEM-PALAVRA, CRUELDADE E TRANSE
A comunicação tem por objetivo o debate e a análise do filme Lavoura Arcaica de Luiz Fernando Carvalho, enfocando as relações entre literatura, cinema e teatro marcantes em toda a sua obra. A fala busca contemplar questões do filme que perpassam pelo diálogo entre a reflexão das palavras, as imagens das palavras e a imagem do cinema. Entre os pontos mais ligados à imagem fílmica, discute-se na esteira de Jacques Aumont, aspectos ligados a apreensão do instante e a lida com a luz. Debate-se ainda, a estrutura narrativa poética, episódica e circular do romance que deu origem ao filme, e a repercussão deste discurso literário radical e convulsivo do protagonista, na interpretação de todos os atores profundamente marcada/pontuada pelos conceitos de crueldade, transe e rito da obra de Antonin Artaud. –
Palestrante: Bárbara Tavares dos Santos (Teatro – UFT)

TÉCNICA E EUGENIA
Existe uma antropotécnica em curso? Se ela não opera mais pelo discurso da purificação biológica, reaparece como darwinismo cognitivo. Como sistemas curriculares e linguísticos recriam a discursividade do “bem nascido” (eugenia) inventando uma nova aparelhagem simbólica? Qual a reengenharia do “civilizatório” aparece sob os moldes de uma semiótica estatística? Como a “capacidade” de operar “aparelhos e instrumentos” reintroduziu na humanidade quase uma “diferença de espécie”? Partindo do documentário de Peter Cohen – Homo sapiens 1900 (1998), pretendemos procurar uma senda afim de investigar a crescente “operação formal” que pretende a conversão, que Vilem Flusser nomeu em 1963: “Somos uma geração de contadores que está em vias de transformar-se em uma linha de computadores”. – 
Palestrante: Leandro Freiberg (Filosofia– UFT)

O DESTINO DA CIVLIZAÇÃO
A artificialização da natureza corresponde ao quadro de intervenção humana sobre o assim chamado ambiente natural. Nesta artificialização da natureza está em jogo não apenas a transformação, a desnaturalização e o eventual termo final da natureza biológica enquanto algo dado à manipulação humana, como também se mostra o sinal do destino da civilização. O modo atual do movimento civilizatório é tal que condena a própria civilização à barbárie. Os recursos naturais e a concepção da natureza como recurso meramente à disposição indeterminada da humanidade precisam ser definitivamente postos em questão. – 
Palestrante: Gilberto Kobler (Eng. Ambiental – UFT) 

A QUESTÃO ESTÉTICA EM ADORNO E BENJAMIN
O impulso inicial da Teoria Estética de Adorno deve ser buscado em seus escritos dos anos 40, especialmente em sua Dialética do Esclarecimento. Nessa obra, Adorno e Horkheimer acompanham o processo de reversão que sofreu o projeto de uma racionalidade autônoma, culminando em uma nova estrutura de hetoronomia em uma sociedade administrada, completamente governada por uma racionalidade instrumental. Por trás da aparente autonomia do sujeito racional desvela-se sua profunda reificação ou coisificação no interior desta sociedade administrada. No interior deste “todo falso”, por sua vez, oculta-se do sujeito sua condição reificada através de uma sofisticada rede de produtos culturais cuja função é profundamente apologética em relação ao estado de coisas vigente. Neste sentido, a violência exercida sobre o sujeito pela sociedade industrial é a de atrofiar e esterilizar completamente a imaginação e espontaneidade do consumidor cultural adestrando-o para uma identificação total e imediata com a realidade. A arte tornada mercadoria, neste contexto, torna-se uma repetição do sempre-idêntico (Immergleichheit), ocultando, desse modo, por trás de uma aparência verdadeira, a falsidade do todo social. No entanto, a obra Dialética do Esclarecimento não vai além deste diagnóstico e torna-se, portanto, insuficiente para compreender a complexidade e os rumos da arte moderna e suas relações para com a filosofia. A Teoria Estética, neste sentido, caracteriza o esforço de Adorno em pensar a partir desta situação paradoxal, acompanhando os desdobramentos e novos rumos da arte, bem como sua importância para a teoria filosófica.
Desse modo, a questão de fundo que precisa ser respondida por uma teoria estética é a de como é possível uma genuína experiência estética no interior de uma sociedade administrada. Uma vez que o “todo social” encobre sua falsidade através de uma aparência verdadeira e os indivíduos são adestrados a aceitar esta realidade, como pode a arte proporcionar uma experiência autêntica? Pensar esta questão a partir de Theodor Adorno e Walter Benjamin será nosso objetivo. –
Palestrante:  Oneide Perius (Filosofia– UFT) 

O NEOREALISMO ITALIANO
A exposição procurará apresentar, em linhas gerais, determinadas matrizes formais e de conteúdo do neorealismo italiano, procurando evidenciar a influência, sobre esse importante movimento cinematográfico nascido no período da Segunda Guerra, das escolas realistas europeias, e da reflexão crítica, na Itália, em torno, por exemplo, de Passinetti, Barbaro e De Santis –
Palestrante: André Assunção (Sociologia – FCP)

CORPOS NÔMADES: DIÁLOGOS CONTEMPORÂNEOS SOBRE IDENTIDADES TRANS/DESVIANTES
Quem somos nós? O que nos constitui? Qual é ou quais são a(s) nossa(s) identidade(s)? Tomo estas questões para pensar a construção dos corpos e das identidades de gênero e sexuais no tempo presente. Falo de um movimento não fixo e provisório onde as representações dos sujeitos que subvertem as normas reguladoras das identidades de gênero e sexuais rejeitam a fixidez e a demarcação de fronteiras fazendo do corpo um lugar de passagem, território incerto, muitas vezes, estranho, cambiante e nômade. Para pensar sobre os corpos e as identidades trans/desviantes trago os ensaios de Louro (2004) sobre a sexualidade e a teoria queer além de uma breve análise do filme XXY, uma produção argentina, lançada em 2007, escrita e dirigida por Lucía Puenzo. – 
Palestrante: Amanda Leite (Pedagogia – UFT)